terça-feira, 6 de outubro de 2009

Dreams



"Possuímos uma vantagem sobre as toupeiras. Precisamos lutar pela sobrevivência, sair à procura de um par e gerar filhos. Mas, em compensação, podemos ir ao teatro, à ópera, a concertos, e à noit, na cama, podemos ler romances, livros de filosofia, poemas épicos. Nestas atividades, Schopenhauer identificou um manancial supremo de alívio para as exigências da vontade de viver. " ( continua...)
Retirado do livro "As consolações da filosofia" de Alain de Botton

Outback e comidinha

Como pode ter algo haver essa maça com o prato de costela?!
Costela adocicada, não dah para comer outra coisa no outback, as outras carnes são mt ruinzinhas!

Hot wings eh mt gostosinho! pena q vem tao pouco, fazendo as contas, sai 2,60 cada coxinha de asinha... :oO ki caruuuu!!



Inhame mais carne de porco mais arroz mais nirá!


segunda-feira, 5 de outubro de 2009

YIRUMA!

"Meu amado e saudoso,

Faz tanto tempo desde a sua partida e ainda sinto sua presença a meu lado, veja só, você me transformou numa viúva que dá trela a fantasmas. Ainda converso com você quando estou na cozinha lavando meu único prato, meu unico copo e meu par de talheres, quase posso enxergá-lo sentado aqui nesta mesa de formica fumando seu ultimo cigarro e divertindo-se com minhas tagarelices antes de se deitar. Mas hoje já não tenho tanta vontade de conversar, não consigo acompanhar o ritmo da Valeria nas poucas vezes em que ela aparece para uma visita. Ela fica me corrigindo toda hora, não tem a menor paciência comigo. Está uma quarentona muito bonita. Mas dura.

Sorte sua não ter envelhecido, é a unica vantagem de a morte ter lhe buscado aos 58. Você não precisou passar pelo constrangimento de virar um idoso nesta terra de apressados. Ninguém me olha, e quando me olham não enxergam minha precariedade. Exigem de mim rapidez na fala, no caminhar, no raciocinio, como se eu tivesse prazer em hesitar. Valeria fica irritada por eu nao ser mais a mulher agil que fui antigamente. Não sei se ela percebe o quanto me cobra. Esta menina nao se convence de que se tanto me repito e gaguejo, não é pelo prazer de torturá-la. Querido, me sinto envergonhada por estar tão enferma sem estar doente. O nome disso é decadência. Não controlo mais as minha vacilações. Sou um corpo a serviço da humilhação.

Você nao precisou passar por esta injustiça divina. Vou contar como é. Tenho o dia inteiro para escrever e voce uma eternidade para me escutar.

Esquecida eu sempre fui, nao é de agora. Moça ainda, trocava o nome das pessoas e o nome das coisas, lembra como voce ria de mim? Ficou sendo o meu charme. mas hoje me assusto. As palavras nao me chegam. Em certos momentos estou com elas prontinhas na boca, mas desaparecem no instante em que vou falar. Somem sem dar-me a chance de um adeus. E, junto com elas, some todo o meu pensamento, toda a razão da conversa. Fico como uma pateta no meio do caminho sem concluir o que havia iniciado. Disfarço, mas não gostaria de disfarcar, queria que todos prestassem bem atenção em como isso acontece e entedessem que não é de proposito que eu não completo as minhas frases, não é de proposito que meu cheiro não é agradavel. Não estou querendo punir ninguem com a minha velhice.

Quando eu era bem menina, brincava com minha irmã de esconder pequenas coisas em uma das mãos. Cruzava os dois braços atras das costas e pedia para ela escolher: adivinha em que mão está a tampinha, adivinha em que mão está a moeda. Ela escolhia um dos braços, eu trocava o objeto de mão caso ela tivesse acertado e só então mostrava a minha palma aberta e vazia: errou.

Sinto como se Deus tivesse feito a mesma brincadeira comigo. Cruzou seus dois braços por trás e pediu que eu escolhesse. Só que nao havia tampinha, nao havia moeda. A escolha que Ele me deu foi entre a morte e a velhice. Melhor envelhecer, evidente. Minha opçao é por viver até quando der. Mas eu desejava um terceiro braço, uma alternativa menos incomoda: a lucidez intacta. Sem nenhuma armadilha. Sem os lapsos. Sem o afinamento da minha pele - estou ficando transparente ! E sem os joelhos fracos. Você não sabe a importância de um corrimão. Não faz idéia.

Valeria reclama das minhas roupas, me acusa de ter perdido a vaidade. É engraçada esta menina. Não se da conta de que não há mais lojas que atendam as minhas necessidades, não percebe o tamanho dos meus ombros, dos meus quadris. E a danada foge do meu abraço, me beija rapido com receio de que eu a retenha junto a minha face, e eu a reteria mesmo se isso não lhe provocasse tanto asco. Ela se justifica dizendo que exagero no perfume.

Nao lembro se eu era tão rigorosa com minha mae. Morreu depois de voce, ao redor dos 90, e não me atrapalhou a vida nem me afrontou com seu definhamento, até onde recordo. Se bem que, depois que as mães se vao, como não absorve-las? Valeria retruca diz que eu era igualzinha, sem tirar nem por: impaciente ao falar com mamãe ao telefone e queixosa de suas manias, principalmenteda sua avareza. Mas creio que fui atenciosa com ela, tratava-a com cuidado e calma, entendia suas limitações. Tenho quase certeza que sim.

Ganhei um coar lindo no meu ultimo aniversario. Gerusa me deu - está viva ainda! Outro dia vi no obituario do jornal o nome de uma Gerusa e pensei: lá se foi mais uma de nós. Afinal, não são tantas as Gerusas na cidade. Mas não era ela. Obituario é vicio,, minha diversão morbida e secreta. Antes eu me chateava ao ver os nomes das minhas ex-colegas nas participacões de falecimento, ou os de seus amigos, mas agora penso ' antes ele do que eu'. E quando é alguem que merece que eu de uma passadinha no velorio, quase agradeço essa morte que me tira um pouco de casa e me distrai. Quase nunca saio. Nao sei onde usar o colar que Gerusa comprou para mim. Quando o mostrei para Valeria, pude perceber em suas feicoes que ela considerava um desperdicio um colar tao moderno e vistoso repousar numa gaveta, ou, alternativa pior, no colo amarfanhado de uma velha. 'Vai ser seu', eu disse a ela, sorrindo. Ela respondeu 'eu sei' sorrindo mais ainda, e fiquei impressionada ao ver como podemos ser civilizadas e brincalhonas diante do terror.

Você nunca ficou doente. Nunca mesmo, que eu me lembre. Eu também não estou com nenhuma doença seria, os medicos me fazem agrados, pedem exames e depois de avaliarem o resultado me chamam de garota, fingem que sou imortal, mas tudo me doi, cada dia surge uma pontada em um lugar diferente do corpo, e estas são as que me inquietam, as dores moveis. As fixas, que latejam sempre no mesmo lugar, são como se fossem da familia. Sentiria falta delas caso me deixassem.

Que bom que voce escapou. Nunca saberá como é duro despedir-se de si mesma todas as noites, antes de dormir, temendo falecer sozinha durante o sono. Mas nao virei uma anciã trágica, no fundo sei que vou acordar amanhã, nem que seja para escrever longas cartas pra você, que me acompanha mais com sua ausência serena do que aqueles que me escutam mais ou menos, sempre de olho no relogio.

Até breve, Clô."

( Retirado do livro "TUdo que eu queria te dizer- " Martha Medeiros")